AdoleSER

Foto: masy/Pixabay


- QUEM É VOCÊ? NOSSA, FILHO, COMO VOCÊ CRESCEU ASSIM TÃO RÁPIDO?

É, os pequenos crescem e de repente, num desembaçar ligeiro dos olhos, parecemos perceber a mudança, para logo em seguida cobrir a vista com o véu da projeção distorcida.
Estava no supermercado, quando senti um rapaz se aproximar pela minha lateral. Fiquei em pânico e imediatamente me coloquei a procurar meus filhos, achando que os havia perdido e aquele “estranho” poderia ter más intenções. Olhei na direção dele para tentar intimidar (eu, do meu tamanho, parece piada, mas mãe, mesmo pequena, vira leoa para defender seus filhos) e percebi que não havia perigo algum, ELE ERA O MEU FILHO!
Aquele “garotinho pequenininho” estava ao meu lado, maior que eu, buscando a mãe; um rapaz, mas eu havia me esquecido do quanto meu filho cresceu ou será que dormi esses anos todos e não vi isso acontecer?

Sabe aquela sensação pela qual os adolescentes passam de não reconhecer o próprio corpo? Pois é, mães também passam por isso junto com eles. Não há reconhecimento de si mesmo por parte deles e nós não reconhecemos a transformação conforme acontece. É um processo demorado e atrasado: antes a transformação e só depois, bem depois, a percepção.
Antes pequeno e frágil e agora grande, forte, pesado e até maior que a mãe, como no meu caso. E então, um abraço apertado é um verdadeiro esmagamento, um beijão vira uma torção no pescoço. Assim como quando eu quero pegar o “bebê” no colo e ele foge ou vou ajudar a colocar o tênis e escuto: “- Sai mãe”! E no susto que aquele vozeirão causa, torço a mão na tentativa de proteger meu filho do sujeito estranho enquanto termino a tarefa de amarrar o tênis.

Aquele ser, antes tão pequenininho, agora é maior que eu, mas uma coisa continua igual, aquele calorzinho gostoso que ele sempre emitiu e aquece meu coração. Você já reparou como os filhos são aquecidos? Dá até para ver o calor saindo do corpo deles, em ondas transparentes, que criam volume e movimento no ar. É como quando está muito quente e podemos ver o calor saindo do chão. Quando abraço meus filhos e fecho os olhos posso sentir e ver esse fenômeno “filhístico”.
Mas eles vão crescendo e continuam crescendo, crescendo, crescendo...
Dão lição de moral, nos chamam para realidade; nos trazem de volta para o agora, num choque de realidade, em momentos em que somos pegas desprevenidas e não há tempo suficiente para colocar o tal véu da projeção distorcida, que nos permite continuar enxergando-os pequenos para sempre.

Foto: werner22brigitte/Pixabay


Olha esse tênis tamanho 41!!! As roupas, até outro dia compradas na seção infantil, já não servem mais. Quem entra em casa e olha o varal na lavanderia, jura de pé junto que ao invés de mãe e filho, quem mora na casa é pai e filha....as roupas dele agora são compradas na seção de adulto, enquanto as minhas continuam sendo da seção infantil.
Não adianta querer guardar as blusas esticadas no armário de criança, elas precisam ficar em rolinhos para a gaveta fechar, assim como as calças e shorts. Os sapatos também pedem novo espaço, caso contrário ficarão espalhados pela casa toda à procura de uma gaveta onde possam ser guardados os pares e não um pé de cada calçado.
O espaço que antes era para brinquedos agora é dividido com livros, gibis e jogos; um verdadeiro caos, assim como os adolescentes ficam por dentro: misturados e bagunçados. Sim, porque nessa fase de transição, os brinquedos ainda são usados, mas precisam receber no espaço, antes só deles, cadernos, livros e tantas outras novidades da fase que vem chegando, trazendo consigo novos interesses.

Sempre fui encantada pelo aprendizado que o desenvolvimento proporciona. É fascinante ver como as crianças vão descobrindo o mundo enquanto crescem e o quanto aprendo observando esse processo. Mas agora, ahhh....agora, meu filho continua me ensinando, mas de uma maneira diferente, ele não tem mais o tom de encantamento, ele é quase um profundo conhecedor da vida, me surpreendendo deliciosamente com tanta sabedoria. Meu filho, quando foi que você aprendeu isso? Eu não vi...não vejo mais como antes; as 24 horas juntos de ontem se reduziram há alguns momentos do dia; agora ele tem uma vida além de mim!!!!! Como pode? Éramos eu e ele numa feliz simbiose.

E foi assim que outro dia ele me fez perceber tudo isso (provavelmente eu estava fingindo não ver) e me encantou mais uma vez com tanta sensibilidade, percepção e maturidade. Em meio a uma bronca, ele disse:
- Eu só cresci, mas parece que você não me conhece mais, parece que me acha um estranho. Prazer, sou eu, seu filho.
Ahn? Como? É isso filho, você está certo, às vezes não te reconheço. Onde está meu bebê? Mas meu coração continua sentindo VOCÊ, sua essência, seu calor, e então sei que é VOCÊ. É fascinante te ver crescer, mas dá medo não saber mais de tudo que se passa na sua vida, agora você está crescendo para fora de mim e mesmo não querendo ter “controle” de seus passos eu quero ter, só para saber que está tudo bem contigo.
Ainda não cortei o cordão umbilical, mesmo você já tendo feito isso de sua parte. Ainda não me acostumei a ver você indo dormir depois de mim. O que você fica fazendo no quarto, sozinho, de porta fechada? O que conversa com os amigos? Do que tanto ri vendo vídeos na internet? Me conta, me deixa continuar sabendo tudo que gosta, tudo que faz, assim me sinto perto de você, ainda em simbiose.

Devo confessar, às vezes esqueço o quanto gosto de ver passarinho voar livre e tento trazer meu filho para debaixo das minhas asas.

Um aprendizado mútuo, assim tem sido e continuará sendo o crescimento dos meus filhos. Eles vão aprendendo a se ver além de mim enquanto aprendo a os ver trocando de pele fora de mim, porque mesmo gostando de ver o ninho cheio, sou completamente apaixonada pelo voo livre....e pelo voo duplo também....hahaha!

- QUEM É VOCÊ? NOSSA, MÃE, VOCÊ PARECE TÃO MENOR...




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